Tuesday, January 23, 2007

Blues à tarde( com flauta doce...)


Pausa à tarde ecoa flauta doce
Pelos canteiros da avenida
Brilha um alecrim-de-angola distraído
O charuto cubano mantém-me sóbrio
Apesar do cheiro de anis,
(não aspiro à pressa dos prédios e dos homens)
Os elevadores presos no subsolo
Deixa-me com sensação de liberdade e improviso
(lembra-me blues, solos de blues)
Ainda tenho uma ampulheta,
Uma estatueta de louça
Fotos onde amarelam sorrisos brancos de tantos amigos
(todos ali estáticos como se não houvessem partido)
Um sax americano dos anos sessenta
E alguns selos antigos
(o camelô da esquina vendia-me até sonhos...)
mas o charuto cubano é legítimo
essa lágrima que verte sozinha, é legitima
o verso que hoje não escrevi
fez-se por si e é legítimo
e essa pausa na tarde que ecoa flauta doce,
faz o sol pôr-se em mim, sol em mim
solos de blues,
solos de blues,
solos de mim...

Monday, January 22, 2007

Amores


Amores ficam na retina,nas redes vazias,
entre primaveras tardias, nos poemas que cantam
estrelas arredias pousando em mares ternos.
Amores ficam, amores eternos,
nas gavetas trancadas das lembranças eternizadas,
nos outonos tantos de ipês amarelos
amores ficam, amores eternos,
nas praças com nome de Marias ou Helenas,
nas igrejas, nos campanários,na saudade que dispensa calendário
amores dançam nos casacos antigos invernos
melodias que ardem nas brasas quietas da lareira,
no vinho que embriaga o cálice nas sextas-feiras
nas horas em que anos dilacero, sentimentos imutáveis
amores ficam, amores eternos,
ainda que inalcançáveis
amores serão sempre amáveis
...