Sunday, December 17, 2006

Rosas de San Vicent




Trago versos e cicatrizes
Das rosas de vidro de Guadalupe
Rios de cantos negros
Rios de cantos, à boca da noite
Tecendo anjos mulheres e homens de luzes
Meninos sopranos de mel
cantando à lua
Sob o céu de San Vicente
Sob o céu de San Vicente
Tenho o cheiro dos cortes das rosas
Tatuados na alma
Pétalas das melodias
candeias de estrelas cadentes
apagando as noites suaves
criando manhãs sonoras
auroras bordadas véus
Sob o céu de San Vicente
Sob o céu...

Thursday, November 02, 2006

Palavra


Pai traz a lavra,
Que a fome é muita.
Pai traz a lavra,
Pois dividem mal.
Pai traz a lavra!
Pai a lavra!
Palavra.

Wednesday, November 01, 2006

Calvário


No cálice que se diz santo.
Busco a embriaguez permanente.
No sacro soar enferrujado dos sinos,
eu rio e choro, numa dança demente.
No resto do pão mal dividido
Farto-me como se fosse banquete.
Nas penitências que não absolveme
não nos redimem as falhaseu adormeço,
e a cruz que carrego
não pesa mais que palha.
Pelas mãos erradas que constroem o sacrário
Pelas contas, tontas,
de tantos dedosa girar o rosário.
Pela porção "anjo" e "demônio"
que nos é hereditário.
Pelas vozes que orientam e confundem
e não hesitam em crucificar-nos a
todo instante
Confesso-me culpado, por ainda ser
tão parecido como antes.
E não preciso de julgamento, sigo só, voluntário.
Pois meu corpo tem as trilhas, os trilhos
chegarei ao meu calvário.

Tuesday, October 31, 2006

Dança das rosas...




Rosa encantada, rosa dos tempos,
Rosa das rodas, diz ao vento:
- A vida é séria, não nos é revelada,
A grande magia.
Rosa encantada, rosa menina,
Vai e avisa, diz, improvisa:
-Atrás do firmamento
É todo ungüento, incenso de anis,
O tempo parado dança o silêncio.
Rosa encantada, diz apressada,
Atrás do firmamento, tem outro firmamento,
De um azul tão intenso, que tudo cura,
Rosa Rosada, rosa de incenso,
A verdade revelada dança o silêncio,
Atrás do firmamento, outro firmamento,
Uníssono e intenso, nada mais, só sentimento.

Sunday, October 29, 2006

Detalhes



Pelos mesmos tons das noites,
Pelos sons de lembranças ternas,
Pelo calor que ainda me sustenta,
Pela tua presença a dançar, dançar,
Em notas suaves, lentas... lenta
A perpetuar teu aroma pelos ares.
Por estar em mim, em todos os lugares,
Pela dor da saudade, pelas lágrimas
Ainda teu nome, ainda teus são os versos,
Que nunca lestes, nem percebestes,
De talhares em mim, todas tuas rotinas,
De talhares em mim, de talhes em talhes,
Todos teus traços, de talhes em talhes
Perpétuos olhares
De talhes, em talhes...
Detalhes...


Tonho França.

Thursday, October 26, 2006

Desalinhos...



Disfarço os traços pelo chão
Desfio as flores, linhos
As linhas das minhas mãos
enganaram-se os que leram
upgrade, nova versão
os outonos já passaram
entre invernos que não vieram
fashion verão
Verão os que não temem
o som dos fantasmas de giz,
que dançam céus de estrelas no chão
o escuro que sobe,a erva acesa no porão
nenhuma fórmula tem a cura,
nem a cura precisão,
procura-se nova poção
o escuro bate a porta
a erva acesa no porão
men protect the sunglasses
os invernos não vieram
Verão...

Tonho França

De alma limpa...


Vou sair às ruas, dançando sombras,
Colhendo luas, pulando os muros,
Entregando as flores, rasgando os jornais
Vou sair descalço, e com alma limpa
Descer as ladeiras sem culpa alguma
Tocando bandolins de borboletas azuis,
Canções de falem de vida, na noite escura
Acordando o mundo numa só janela,
Vou, vou sair poeta, vou ser a rua,
Vou ser a sombra, que floresceu no muro,
Vou, vou entregar as luas, descendo as ladeiras,
Vou, vou nascer antes de chegar o dia,
Na alma encantada das borboletas azuis,
De alma limpa, e cara pintada de mim,
Entoando versos alados, acendendo o mundo,
Nos acordes mágicos dos bandolins.

Tonho França.

Wednesday, October 25, 2006

Grávida


grávida
a moça cálida passeia,
a vida contorna o vestido:Lua cheia.

Tonho França

Pontes


Além da ponte: o poente.
E a vida naturalmente
serve-nos novas poesias
Em frágeis copos-de-leite.

Tonho França

Tuesday, October 24, 2006

Abajur


Na sombra calada do abajur
Traços claros de um tempo
Que já não é mais.
Onde a música ouvia-se livre
A reluzir nas louças,
Nos vidros antigos da cristaleira.
O mesmo relógio que canta as horas
Inteiras, canta as meias-
Badalas parecem eternas,
Ba da la das
Ba da la das
O cachimbo e um vinho do porto
Protegem-me da solidão das pessoas
Mas o mundo ainda parece tão perto
Ba da la das
Ba da la das
A vida foi-se nos olhos claros da madrugada,
Na sombra calada do abajur
Já não mais.
Jaz...

Monday, October 23, 2006

Concretismo


Vejo-me entre arranha-céus, cinzas
Concretos, luzes, avenidas, semáforos,
Esquinas com perfumes e moças
Pedestres nas faixas
A vida na faixa
Meu rosto não tem marca de nenhum batom
No sobretudo uma rosa vermelha
Um poema de Drummond na ponta da língua
Um piercing tatuado no busto da praça
Um menino dorme no chão
(a vida na faixa: contramão)
No sobretudo uma rosa vermelha
A vida na ponta da língua
Arranha o céu
Arranha
Em vão.

Sunday, October 22, 2006

Apocalipse


As tardes passam em lentos funerais
Meus pássaros migraram para o sul
Meus olhos tangem estrelas – azul
Não lembro o que cantávamos no verão passado
Perdi o sol que levava nas mãos
Eu vi os homens em sua escuridão
Olhares díspares, pisando flores
Meninos ganhavam asas e fuzis
Os cavaleiros que nunca vieram
Os cavaleiros que nunca viriam
I saw the death and its hungriness
I saw the death and its hungriness
E tantas luas dançaram lágrimas
De anjos negros expulsos do paraíso
com gotas de chuva teceram sonhos
Versos de horizontes, rimas de infinitos...

Saturday, October 21, 2006

Pássaro Preto



Black bird
As tempestades virão
De um céu claro, verão
Black bird
Underground
visãodestroços dos castelos
segredos dos moinhos
teares de canção
black bird não se iluda
o rumo nunca muda
mudam as percepções
não há Deuses nem calabouço
so destino é uma parte do todo
o todo é imaginação.
black bird, black bird
cante e esqueça
pois os cantos também passarão
Pássaro preto
sing! Forget!
the songs also will pass...

Friday, October 20, 2006

Às vezes, só às vezes...


Às vezes, só às vezes.
Nos porões, nas alcovas.
Mais internas,
Ou nos sótãos que não abro
Nas primaveras
Nas louçarias porcelanizadas
Em azuis decorados por tempos
Esquecidos passados,
Às vezes, só às vezes
Nas estantes onde repousam os livros
A tristeza emerge tão abrupta e voraz
Que minhas defesas, dissolutas
Desabam aos versos, vencidas
Pelas lágrimas absolutas, remidas
Imagens do que já foi a vida

Amores


Amores ficam na retina, nas redes vazias,
entre primaveras tardias, nos poemas que cantam
estrelas arredias pousando em mares ternos.
Amores ficam, amores eternos,
nas gavetas trancadas das lembranças eternizadas,
nos outonos tantos de ipês amarelos
amores ficam, amores eternos,
nas praças com nome de Marias ou Helenas,
nas igrejas, nos campanários,
na saudade que dispensa calendário
amores dançam nos casacos antigos invernos
melodias que ardem nas brasas quietas da lareira,
no vinho que embriaga o cálice nas sextas-feiras
nas horas em que anos dilacero, sentimentos imutáveis
amores ficam, amores eternos,
ainda que inalcançáveis
amores serão sempre amáveis...

Thursday, October 19, 2006

Cores...(dores)


A tarde repousa no quintal
Púrpuros tons de anjos
Folhas e flores brincam ao vento
Como a se recolher da noite
Fecho as janelas,
( protejo-me de mim mesmo)
Vinho e cigarro e a mesma tosse,
A mesma música e os olhos fixos
Na tela que descansa em tons claros
Tua imagem,
O tempo não tira isso de mim,
Éramos azuis, e tínhamos a profundidade do mar.
Éramos rosa, e tínhamos o mesmo olhar,
Éramos lilás e sabíamos dançar
(vinho, cigarro e a tosse que insiste).
Éramos furta-cores, todas as cores, aquarela.
Hoje lembranças, onde sangro, sagradamente,
Tua imagem em tons claros na mesma tela.

Wednesday, October 18, 2006

Flores de Inverno


Podem escolher as flores,
Colher as de outono, do inverno
Não importam as cores
Preciso de flores por todos os lados
Que cubram meus olhos, meu rosto
Meu corpo se quiserem.
Deixem o cheiro das flores espantar omeu desgosto.
Só deixem ao relento o lado esquerdo do peito
Foi one plantei a semente mais preciosa
Na cova mais funda, com fundo carinho
Um único pé de amor-perfeito, com jeito de ninho.

Monday, October 16, 2006

Sem poesia


A rua em tom de cinza,
Tarde amena, flores que rolam,
Roubam a cena,
Passo apressado,
Ando meio assim,
Descompassado,fora de mim.
Acendo uma estrela,
Não faço pedido,nem prece,
O poeta foi-se com os dias,
Como as flores que rolam vadias,
A rua em tom de cinza,
Não sabe o vazio,
Do homem sem poesia.